segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dupla face: a anatomia de uma guerra azul e verde


A coerência nunca foi tão importante para a formação do caráter de um ser humano, muitos pregam. Coerência em casa, no trabalho, na vida social, no amor, em tudo. Ser congruente com aquilo que diz, fugindo do velho 'faça o que eu digo, mas, não faça o que eu faço' é um dos passos para a construção de um caráter sólido, segundo muitos. A pessoa de 'dupla-face' geralmente não é bem vista, porque pode-se não saber qual é o seu verdadeiro eu. Mas a questão aqui, é que muitas vezes a palavra coerência é incompatível com o dicionário de muitas situações, com a realidade de muitas vidas. Nestes casos, a tão assustadora dupla-face é faz-se necessária.

Imagina que você tem um camisa verde e outra azul. Imagina que seus pais são separados. Que o seu pai gosta de verde e, sua mãe, de azul. E que seu pai abomina o azul e, sua mãe, faz o mesmo com o verde. E você adora suas camisas verdes e azuis. Agora veja a seguinte situação: você passa metade do dia com seu pai e metade com a sua mãe. Todos os dias da semana, sem exceção. Quando você está com o seu pai, você necessariamente precisa usar sua camisa verde e ai de você se fizer algum elogio, por mínimo que seja, à cor azul. Seu pai nem imagina que você possua uma camisa azul. Na outra metade do dia, o inverso: você veste sua camisa azul perante a sua mãe, e ai de você se ela descobrir que você está por aí andando de verde. Todo santo dia, você precisa praticar esse esconde-esconde de camisas. Se não o fizer, coitado de você, vai arrumar uma briga 'federal'. Você é obrigado a ser verde para um, e azul para o outro. Atenção, jamais se confunda, é verde para o pai e azul para a mãe. Não me surpreende que você esteja cansado e estressado com esse jogo de troca de camisas. E se o seu pai fosse mais tolerante com o azul ? e se sua mãe aceitasse mais o verde ?. Seria muito melhor, não ?. Pouparia você de todo esse estresse.

A história do parágrafo acima, que não sei como mas eu inventei, é apenas um eufemismo de uma situação tragicamente real. E que antes fosse apenas uma questão de troca-troca de camisas verdes e azuis. Tal como um estrategista, nessa história real, é necessário saber muito bem aonde se pisa. De maneira cirúrgica, caso contrário, você pode pisar em uma mina. Estou a cerca de três meses de completar 28 anos, e mais da metade desse tempo eu vivo assim, em uma guerra. Uma guerra em que a tolerância passa tão perto quanto a Muralha da China da Estátua da Liberdade. Em que o ódio se transformou em água, impossível de imaginar como viver sem ela. E assim é a minha vida, sobrevivendo entre o verde e o azul. Sem poder ao menos elogiar a outra cor na presença do que a detesta. Fazendo o impossível para agradar ao verde, sem desagradar ao azul, e agradar ao azul sem desagradar ao verde. É possível isso de forma coerente ? não é !. Mas existe coerência em uma guerra ? existe tolerância em uma guerra ? existe compaixão em uma guerra ? respondam vocês mesmos.

Amo o verde tanto quanto amo o azul. Quero vê-los sempre felizes. Devo quase tudo do que sou hoje a essas duas cores. Daria a minha vida pela felicidade deles, se isso fosse possível. Deus abençou minha aquarela com essas duas cores maravilhosas. Uma pena que escolheram o ódio, a intolerância, sem ao menos medirem quão mal isso poderia fazer (e faz) aqueles que são frutos dessa mistura de cores. Como é triste, como é doloroso. Em praticamente cada momento da minha vida, preciso ter o cuidado de não misturar as duas cores. Meu coração sangra de dor em verde e azul.

E é em meio a esse jogo de dupla-face que eu levo a minha vida, com muitas responsabilidades a cumprir, com muitos sonhos a tentar realizar. E é em azul e verde que me atraso nos estudos, que fico deprimido, que me sinto sem saída muitas vezes, que me estresso, que choro. Tudo seria bem diferente se mais duas cores fossem acrescentadas à essa guerra bicolor: as cores da tolerância e da compaixão.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Modernidade Safada


Muitas pessoas evitam sair de casa por medo de assalto, principalmente nas grandes cidades. Para não gastar gasolina, dinheiro, pegar trânsito e outros aborrecimentos típicos da vida moderna( ou pós-moderna, como preferem alguns). Em muitos casos, tal conduta é perfeitamente aceitável, contanto que não atinja níveis paranóicos. Mas pior que as paranóias da modernidade é o estilo de vida doentio que ela trouxe consigo: o virtual. Também pode ser chamada de pós-realidade, pois hoje o virtual é o real, lamentavelmente.

É o virtual que mudou e muda a cada dia as estruturas da sociedade, em um ciclo vicioso sem fim. Muda o senso comum, muda os hábitos, muda as relações, muda tudo. E pior, afasta e destrói. É por causa do tão louvado mundo virtual, que as crianças deixam de ser crianças cada vez mais cedo, sendo forçadas a adquirir uma maturidade a que não estão preparadas. O menino do 102, não desce mais pro playground do prédio para brincar com o amigo do 401. Liga o computador, fala pelo glorioso messenger, entram em sites. A adolescente de 14 anos, da 8ª série, não marca de sair com as amigas da escola para conversar e fofocar, usa o messenger. Jogar bola ? sair pra ver os amigos ? conversar pessoalmente ? pra quê, se nós temos MSN ?. Conversar na faculdade depois da aula ? que coisa mais antiquada !. E por aí vai... .

É uma maravilha ver a cada dia as "bençãos" que o mundo virtual trouxe ao mundo. Tudo você pode fazer no computador ! Conversar, namorar, transar, ler, estudar e muitas outras coisas. Que maravilha, não ?. Já não se faz necessário o papo olho-no-olho, a presença de um amigo ou amiga, as piadas contadas em grupo, não precisa mais, isso é coisa da Idade da Pedra. Agora tudo é olho-na-tela. Acho até que não se faz necessária a construção de prédios com playgrounds, em vez disso, faz uma lan-house na portaria e pronto.

E assim, meu caro leitor, caminha a humanidade, parafraseando Lulu Santos. Caminha a passos largos para uma era ultravirtual sim, mas para uma era de artificialidade, infantilidade, imaturidade e egoísmo. Uma era em que a presença de um ser humano - não importa se ele é seu amigo, irmão, marido, esposa, prima ou o escambau- é menos importante do que o seu computador. Uma era em que um serviço de mensagens instantâneas é mais legal e preferível do que a presença daquele seu amigo há mais de 10 anos.

E o mais ridículo de tudo são os discípulos do mundo virtual, denfendendo-o com unhas e dentes, ou melhor, com teclados e mouses. Coitados, não percebem que a cada dia se tornam mais virtuais...e mais infantis e alienados. E assim caminha a humanidade... .