segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dupla face: a anatomia de uma guerra azul e verde


A coerência nunca foi tão importante para a formação do caráter de um ser humano, muitos pregam. Coerência em casa, no trabalho, na vida social, no amor, em tudo. Ser congruente com aquilo que diz, fugindo do velho 'faça o que eu digo, mas, não faça o que eu faço' é um dos passos para a construção de um caráter sólido, segundo muitos. A pessoa de 'dupla-face' geralmente não é bem vista, porque pode-se não saber qual é o seu verdadeiro eu. Mas a questão aqui, é que muitas vezes a palavra coerência é incompatível com o dicionário de muitas situações, com a realidade de muitas vidas. Nestes casos, a tão assustadora dupla-face é faz-se necessária.

Imagina que você tem um camisa verde e outra azul. Imagina que seus pais são separados. Que o seu pai gosta de verde e, sua mãe, de azul. E que seu pai abomina o azul e, sua mãe, faz o mesmo com o verde. E você adora suas camisas verdes e azuis. Agora veja a seguinte situação: você passa metade do dia com seu pai e metade com a sua mãe. Todos os dias da semana, sem exceção. Quando você está com o seu pai, você necessariamente precisa usar sua camisa verde e ai de você se fizer algum elogio, por mínimo que seja, à cor azul. Seu pai nem imagina que você possua uma camisa azul. Na outra metade do dia, o inverso: você veste sua camisa azul perante a sua mãe, e ai de você se ela descobrir que você está por aí andando de verde. Todo santo dia, você precisa praticar esse esconde-esconde de camisas. Se não o fizer, coitado de você, vai arrumar uma briga 'federal'. Você é obrigado a ser verde para um, e azul para o outro. Atenção, jamais se confunda, é verde para o pai e azul para a mãe. Não me surpreende que você esteja cansado e estressado com esse jogo de troca de camisas. E se o seu pai fosse mais tolerante com o azul ? e se sua mãe aceitasse mais o verde ?. Seria muito melhor, não ?. Pouparia você de todo esse estresse.

A história do parágrafo acima, que não sei como mas eu inventei, é apenas um eufemismo de uma situação tragicamente real. E que antes fosse apenas uma questão de troca-troca de camisas verdes e azuis. Tal como um estrategista, nessa história real, é necessário saber muito bem aonde se pisa. De maneira cirúrgica, caso contrário, você pode pisar em uma mina. Estou a cerca de três meses de completar 28 anos, e mais da metade desse tempo eu vivo assim, em uma guerra. Uma guerra em que a tolerância passa tão perto quanto a Muralha da China da Estátua da Liberdade. Em que o ódio se transformou em água, impossível de imaginar como viver sem ela. E assim é a minha vida, sobrevivendo entre o verde e o azul. Sem poder ao menos elogiar a outra cor na presença do que a detesta. Fazendo o impossível para agradar ao verde, sem desagradar ao azul, e agradar ao azul sem desagradar ao verde. É possível isso de forma coerente ? não é !. Mas existe coerência em uma guerra ? existe tolerância em uma guerra ? existe compaixão em uma guerra ? respondam vocês mesmos.

Amo o verde tanto quanto amo o azul. Quero vê-los sempre felizes. Devo quase tudo do que sou hoje a essas duas cores. Daria a minha vida pela felicidade deles, se isso fosse possível. Deus abençou minha aquarela com essas duas cores maravilhosas. Uma pena que escolheram o ódio, a intolerância, sem ao menos medirem quão mal isso poderia fazer (e faz) aqueles que são frutos dessa mistura de cores. Como é triste, como é doloroso. Em praticamente cada momento da minha vida, preciso ter o cuidado de não misturar as duas cores. Meu coração sangra de dor em verde e azul.

E é em meio a esse jogo de dupla-face que eu levo a minha vida, com muitas responsabilidades a cumprir, com muitos sonhos a tentar realizar. E é em azul e verde que me atraso nos estudos, que fico deprimido, que me sinto sem saída muitas vezes, que me estresso, que choro. Tudo seria bem diferente se mais duas cores fossem acrescentadas à essa guerra bicolor: as cores da tolerância e da compaixão.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Modernidade Safada


Muitas pessoas evitam sair de casa por medo de assalto, principalmente nas grandes cidades. Para não gastar gasolina, dinheiro, pegar trânsito e outros aborrecimentos típicos da vida moderna( ou pós-moderna, como preferem alguns). Em muitos casos, tal conduta é perfeitamente aceitável, contanto que não atinja níveis paranóicos. Mas pior que as paranóias da modernidade é o estilo de vida doentio que ela trouxe consigo: o virtual. Também pode ser chamada de pós-realidade, pois hoje o virtual é o real, lamentavelmente.

É o virtual que mudou e muda a cada dia as estruturas da sociedade, em um ciclo vicioso sem fim. Muda o senso comum, muda os hábitos, muda as relações, muda tudo. E pior, afasta e destrói. É por causa do tão louvado mundo virtual, que as crianças deixam de ser crianças cada vez mais cedo, sendo forçadas a adquirir uma maturidade a que não estão preparadas. O menino do 102, não desce mais pro playground do prédio para brincar com o amigo do 401. Liga o computador, fala pelo glorioso messenger, entram em sites. A adolescente de 14 anos, da 8ª série, não marca de sair com as amigas da escola para conversar e fofocar, usa o messenger. Jogar bola ? sair pra ver os amigos ? conversar pessoalmente ? pra quê, se nós temos MSN ?. Conversar na faculdade depois da aula ? que coisa mais antiquada !. E por aí vai... .

É uma maravilha ver a cada dia as "bençãos" que o mundo virtual trouxe ao mundo. Tudo você pode fazer no computador ! Conversar, namorar, transar, ler, estudar e muitas outras coisas. Que maravilha, não ?. Já não se faz necessário o papo olho-no-olho, a presença de um amigo ou amiga, as piadas contadas em grupo, não precisa mais, isso é coisa da Idade da Pedra. Agora tudo é olho-na-tela. Acho até que não se faz necessária a construção de prédios com playgrounds, em vez disso, faz uma lan-house na portaria e pronto.

E assim, meu caro leitor, caminha a humanidade, parafraseando Lulu Santos. Caminha a passos largos para uma era ultravirtual sim, mas para uma era de artificialidade, infantilidade, imaturidade e egoísmo. Uma era em que a presença de um ser humano - não importa se ele é seu amigo, irmão, marido, esposa, prima ou o escambau- é menos importante do que o seu computador. Uma era em que um serviço de mensagens instantâneas é mais legal e preferível do que a presença daquele seu amigo há mais de 10 anos.

E o mais ridículo de tudo são os discípulos do mundo virtual, denfendendo-o com unhas e dentes, ou melhor, com teclados e mouses. Coitados, não percebem que a cada dia se tornam mais virtuais...e mais infantis e alienados. E assim caminha a humanidade... .

sexta-feira, 10 de abril de 2009

E era da Sua Vontade


Disse mais o Senhor Deus : Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. ( Gênesis, Cap. 2, versículo 18)

Esse versículo diz respeito à criação de Eva, a companheira de Adão. Mas tem sido muito utilizado pelos cristãos para se referirem a casamento, noivado, namoro, etc... . Muitos se firmam neste versículo como uma promessa universal para o homem. Algo que irá acontecer na vida de cada um, queiram ou não. Em parte estão certos, pois este versículo pode perfeitamente ser aplicado hoje em dia na vida de muitas pessoas. Mas erra quem pensa que ele se aplica na vida de todas as pessoas. Há que se lembrar que a vontade soberana de Deus se aplica a cada um de maneira diferente. Repetindo : a vontade soberana de Deus se aplica a cada um de maneira diferente. Foi aí que meu coração sangrou.

Há um tempo atrás, passando por uma depressão pra lá de complicada, na tentativa de buscar ajuda, fui ao encontro de uma teóloga( não citarei o nome dela por uma questão ética). Discutindo sobre vários assuntos sobre a vida, reparei que ela era uma pessoa sozinha. Tomei coragem e perguntei à ela sobre a sua vida. Ela me disse que era sozinha sim, mas era feliz. Que não tinha filhos, embora tenha sido casada por duas vezes, e que o fato de ela ser sozinha daquele momento em diante era da vontade de Deus. Confesso que na hora achei um pouco estranho, mas acabei por concordar com ela. Sim, por que não seria da vontade de Deus ?. Foi então que ela me disse algo como "de repente Deus tem o mesmo plano para você, que você não se case e seja uma pessoa sozinha". Me assustei e perguntei como poderia saber se isso era verdade. Então ela me respondeu: "dentro de no máximo cinco anos você saberá ". Isso foi em 2003. Estamos em 2009.

De lá pra cá, minha vida afetiva seguiu o mesmo curso de 2003 pra trás : na lama. Tá certo que houve alguns pequenos momentos de alegria, mas foram tão poucos que podem ser considerados espasmos. Estou há seis anos sozinho. Estou há seis anos pedindo ajuda a Deus. Estou há seis anos sem respostas. Enquanto meu coração sangra, muitas pessoas más e sem caráter conseguem se realizar. Tudo bem que eu não sou um santo, mas perto de algumas pessoas eu sou quase um anjo. Por que Deus não me responde ? o que eu fiz de tão grave assim ? . Não consigo aceitar que Deus me considere tão mau a ponto de me negar uma resposta em SEIS ANOS. Onde foi que eu errei, pomba !?. Deus responde a tantos pedidos de tantas pessoas, e não pode me dar uma mísera resposta ? não é nem a solução do problema, é só uma resposta, uma orientação para que eu possa ter um pouco de alívio. Não, Ele não respondeu e tenho quase certeza que não responderá. Porque a verdadeira resposta foi dada há seis anos atrás através daquela teóloga.

Tudo bem, mesmo em meio a dor aceitarei a vontade Dele. Ele é Senhor, e eu servo. É meu dever aceitar. Aceito sim. Não foram todos que nasceram para ter seus sonhos realizados e eu preciso aceitar isso. Como eu disse no primeiro parágrafo : a vontade de Deus é soberana. Só espero que, assim como aquela teóloga, eu possa ser feliz sozinho. Senhora teólogoa, parabéns, você acertou. Era da vontade de Deus que eu tivesse o mesmo destino que o seu.

Respondeu-lhes Jesus: O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois. ( João, Cap. 13, versículo 7 ).











domingo, 29 de março de 2009

A Casa da Benção


A Igreja é a casa de Deus, diz o senso comum. Lá Ele mora, e eu acredito nisso, assim como mora em todos os outros lugares, já que é onipresente. A questão é que muitos esquecem que a Igreja é a casa de Deus, mas é habitada por homens. E, como tudo que é habitado pela criatura, não é perfeita e é passível de desentendimentos. Já vi igrejas se tornarem verdadeiras Casas da Mãe Joana. Mas, segundo reza a cartilha de muitos, a Igreja não é só a casa de Deus, mas é também a casa da benção.

Se alguém acredita em Deus, mas não frequenta a Sua casa, não é tão fiel assim e, talvez, nem acredite em Deus, porque quem acredita e teme a Deus não abandona o lar divino. E quem não comunga não pode ser abençoado. Pouco importa se a pessoa tem caráter, é íntegra, honesta e pratica os valores divinos em sua vida. Não estando no rebanho, nada vale. Só merece o bem não quem o pratica, mas quem vai à Igreja.

Isso tudo que foi levantado aqui não está na Bíblia, nem em livro nenhum. Está no pensamento arcaico de muitos. É um pensamento que machuca, que é cruel e, acima de tudo, injusto. Não é a frequência à um culto religioso que molda o caráter de uma pessoa, porque muitos são cordeirinhos dentro de um templo, mas fora são verdadeiros lobos. Essa teologia( com T minúsculo mesmo) de que só é feliz e abençoado quem congrega dominicalmente é mais uma invenção absurda dos homens. Já passou da hora de parar de pregar essa mentira. O fiel, seja ele de que religião for, tem que ir à Igreja por desejo próprio, pelo que à Igreja verdadeiramente é, e não porque 'se-não-for-não-será-feliz'. Pouco adianta sentar 40, 50 anos no banco de uma igreja e ser uma pessoa sem caráter e sem integridade.

Eu , como cristão que sou, repudio e sempre repudiarei essa falsa doutrina de condicionar felicidade à frequência eclesiástica. Vou à Igreja porque gosto, porque me sinto bem e não pra buscar bençãos. Vou à Igreja pelo que ela é, e não pelo que ela supostamente tem a oferecer. A única benção que busco na Igreja é cultuar a Deus. Ele é a verdadeira benção.

sábado, 14 de março de 2009

Perdas e Ganhos


Muitos especialistas em questões sentimentais afirmam que a 'fase da paixão' de um casamento dura em torno de dois anos. Até lá, os casais estão em eterna lua-de-mel. Defeitos são ignorados, a ansiedade atrapalha a visão racional, questões importantes são jogadas a segundo plano, a impulsividade pulsa forte. Tudo em nome do amor. Mas, segundo esses mesmos especialistas, o amor de verdade só será descoberto após a 'ressaca'. Quando, por exemplo, um homem começar a enxergar os defeitos de sua esposa, quando a razão voltar a ter voz, quando as luzes da realidade voltarem a ser acesas, e ele, já não mais tão 'cego', aceitar continuar sua vida ao lado da mulher com quem se casou, é porque existe amor de verdade. Caso contrário, tudo foi uma paixão de 'Carnaval'.

Há três anos eu começei a faculdade de Jornalismo. No início da lua-de-mel entre eu e a carreira, tudo era maravilhoso. Não havia absolutamente nada de errado. O Éden havia renascido. Eram flores que brilhavam de emoção. Nada podia deter o meu entusiasmo. Nada podia deter meus planos. E assim foi por bom tempo. Mas, queiram ou não, acreditem ou não, as luzes da realidade foram acesas. Como que um aparelho de raio x, fui vendo tudo o que está dentro desta carreira. Tudo. Meu entusiasmo diminuiu. Confesso que levei um susto. A visão não era nada boa. E foi aí que veio a mais importante resposta que eu tive até hoje na minha vida profissional : eu amo o meu curso. Não era uma paixão de Carnaval. Era, e é, amor. Com todas as decepções que eu tive e tenho neste curso, afirmo que o amo. Que se voltasse no passado mil vezes, mil vezes escolheria a mesma carreira. Jornalismo não é só pra quem tem a vocação ou o desejo. É, acima de tudo, para quem pode . Ninguém escolhe o Jornalismo, é o Jornalismo que escolhe a pessoa. Esse curso é diferente de todas as carreiras do mundo. É uma ilha rebelde no mar. É um Estado independente. A melhor definição para organizar as carreiras acadêmicas é as separando por áreas. Humanas, Exatas e Biológicas, é a definição atual das áreas acadêmicas. Mas o certo mesmo seria Humanas, Exatas, Biológicas e Jornalismo, que é único e não pode se enquadrar junto com as demais carreiras, simplesmente porque a carreira jornalística é diferente de TUDO, formando assim uma área acadêmica própria.

Mas nem tudo são flores nessa ilha. E, como eu disse, a paixão acabou. O entusiasmo também. Como é possível não se entristecer com a ridícula guerra de egos no Jornalismo ? com a vaidade a milésima potência ? com as redações fazendo estagiários de gado e os diplomados ganhando menos que vendedor de loja ? simplesmente impossível. Esse tipo de mundo não é pra mim. Não mesmo. Não é porque se ama algo ou alguém que se é obrigado virar fantoche do mesmo. Por isso, depois de muito pensar, decidi o tipo de jornalista que quero ser, e que vai ao contrário de todas as questões levantadas neste parágrafo. Quero e vou ser acadêmico. Quero fazer várias especializações e mestrado. Quero trabalhar com pesquisa. Longe de redações. Bem longe. E não pára por aí. Como a carreira acadêmica não dá sustento nem estabilidade suficientes, precisarei de outra ocupação. Que se chama emprego público. De preferência na minha área, lógico. Mas, em caso de emergência, pode ser em outra área. Isso mesmo, concurso público mais vida acadêmica. É isso que eu quero, é isso que eu farei, é isso que me fará feliz. Nada compra a tranquilidade e a felicidade de se trabalhar com o que gosta tendo um emprego estável. Não era isso que eu desejava há três anos atrás, mas naquele tempo eu ainda estava em lua-de-mel... . Desde já só tenho um objetivo : estudar, estudar e estudar, me preparando para o futuro. Nada de estágio( quem quiser me chamar de preguiçoso, fique à vontade), porque só atrapalha a vida de estudante ao tomar -muito- seu tempo e também porque não desejo entrar no pavoroso e cruel Mercado de Trabalho. Quero é estudar, ler, aprender coisas novas, me preparar da melhor forma. Até porque conhecimento nunca é demais. Cultura é algo que nunca cansa. Seja na universidade, vendo um filme, lendo um livro ou revista, aprendendo novos idiomas, estudando a sociedade, etc... . Tudo isso me dá muito, mas muito mais prazer do que um furo de reportagem, ser correspondente internacional ou conseguir uma entrevista exclusiva com o Chico Buarque( entre outros vips), feitos que são considerados prêmios no Jornalismo.

E assim vou eu, feliz e satisfeito comigo mesmo pela esperança de um futuro bom, de uma vida digna e feliz. Mais feliz ainda por estar consciente e satisfeito do que eu realmente quero e que me faz feliz. A paixão acabou sim. Mas sobrou a esperança.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Mídia reage


Ser o elo de ligação entre o que acontece e o espectador é um dos deveres principais do jornalista. Levar ao espectador/leitor de forma simples e objetiva as notícias e seus subsídios para que haja uma opinião formada. Quem trabalha com comunicação e mesmo quem a estuda, sabe que o 'produto final' tem que chegar da melhor forma ao espectador. Para isso, há de se trabalhar com dedicação, apurando informações, duvidando de tudo, entrevistando e colhendo depoimentos diversos. Naturalmente, um entrevistado ou personagem não pode ser tratado ou visto como insignificante, ao contrário, merece toda a atenção. Mas, como tudo na vida, existe um limite nisso tudo. Jornalista também é gente- tem fome, sede, sono e sentimentos- e, do mesmo modo que entrevistados e personagens( e até mesmo o espectador) merece ser tratado com dignidade e respeito.

Na noite da última segunda-feira, durante o programa 'Linha de Passe-Mesa Redonda', da ESPN Brasil, o diretor de jornalismo da emissora, José Trajano, anunciou que a ESPN Brasil não estará mais presente nas entrevistas coletivas pós-jogo do time do São Paulo, enquanto o técnico Muricy Ramalho estiver falando. Quando algum jogador ou dirigente do clube paulista vier a falar, a emissorá volta ao trabalho, mas com Muricy, sem chance. O motivo : a falta de educação do técnico são-paulino nas entrevistas coletivas. No último domingo, após a derrota por 2 a 0 para o Santo André, Muricy Ramalho resolveu descontar a derrota de seus comandados nos repórteres, promovendo um festival de patadas, grosserias e estupidez. Entre os repórteres presentes, estava Fernando Gavinni, da ESPN Brasil, também 'premiado' por Muricy. A questão é que essa não foi a primeira vez que o técnico promoveu seu "show". Há tempos os jornalistas que cobrem o Tricolor Paulista vêm sendo alvo da falta de educação de Muricy Ramalho. Mas chegou a hora do basta. É louvável a atitude tomada por José Trajano e pela ESPN Brasil. Gostaria que outros veículos também fizessem o mesmo para, quem sabe assim, Muricy se dar conta de que precisa de uma terapia. Mas, de qualquer forma, foi uma atitude de coragem e merece reconhecimento. Sei que muitos vão falar " mas e o torcedor , como ficará sabendo o que o técnico tem a dizer ? ". Minha resposta é : neste caso, dane-se o torcedor. Em primeiro lugar está a dignidade e o respeito que o jornalista merece. Jornalista não é capacho de entrevistado. É uma via de mão dupla: respeito para ambos os lados, mas que começa do lado de lá.

Chegou a hora da mídia parar de supervalorizar entrevistado. Só se valoriza quem se dá ao respeito. Muricy Ramalho é um homem íntegro e de caráter, isso não se pode negar. É vencedor, merece e tem o respeito dos jornalistas, mas é grosso e estúpido. Em vista disso, a mídia não pode e não deve ignorar o fato. Que o exemplo da ESPN Brasil venha a ensinar que a atividade jornalística precisa ser mais valorizada. Pelos próprios jornalistas.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Como Eu Te Amo, Tricolor !



O ano era 1993. Estava com 10 anos. Até hoje é difícil de explicar como foi. Não foi uma decisão racional, e sim, espontânea, como uma paixão arrebatadora, como um amor que te invade e não te deixa. Eu mudei naquele ano. De time, e consequentemente, de vida. A influência flamenguista, de família, durou pouco. Por uns dois anos, senão menos, torcia para o Rubro-Negro. De relevante, vi o título brasileiro de 1992, em cima do Botafogo. Era o penta(?). Lembro que um dia vi de perto uma camisa branca, com listras vermelhas e pretas horizontais. Achei linda. Queria porque queria uma daquela. Consegui através da minha querida e saudosa avó, que comprou uma para mim. Adorava aquela camisa, e o time que a usava era o melhor do mundo naquela época. É o que eu me lembro. Depois, minha única lembrança é de, já vestido com aquela camisa, professar que torcia para aquele time e não mais para o então campeão brasileiro. O São Paulo Futebol Clube ganhava mais um torcedor. Torcedor que ainda viu a final da Libertadores de 1993, entre seu novo time e a Universidad de Chile. No primeiro jogo, no Morumbi, show de Raí e 5 a 1 para o Tricolor. No segundo jogo, em Santiago, acabei dormindo e não vi o jogo. No dia seguinte, aflito, perguntava a todos na escola quanto tinha sido o jogo. Até ficar sabendo: perdemos, mas de 2 a 0 só, e a Libertadores era nossa de novo. Nem bem havia mudado de time e já comemorava o maior título do continente. Era o início de um novo amor. Verdadeiro. Eterno. E vencedor.

Ainda em 93 viriam mais dois títulos importantes. O primeiro, a Supercopa da Libertadores, em cima do Flamengo, meu ex-time ( foi uma delícia) , com 5 a 3 nos pênaltis, após dois empates em 2 a 2. O segundo, o maior de todos, o Mundial. Era Dezembro e o jogo era de madrugada. Naquela noite de calor na Tijuca, perdi a hora. Acordei no segundo tempo. O jogo, contra o Milan, estava 1 a 1. Dois minutos após eu ligar a TV, Toninho Cerezo fez 2 a 1. Alegria que eu tive que conter devido ao horário. Em um descuido da zaga, o francês Papin empatou para o Milan. Prorrogação à vista. Mas, inacreditavelmente, ela não veio. Porque Müller, o eterno camisa 7, não deixou. Aos 43 do segundo tempo, em um lance inacreditável, Müller dividiu com o goleiro Rossi e, sem querer, fez o terceiro. Era o bi. O mundo era Tricolor de novo. Comemoração tímida na Tijuca, mas forte no meu coração.

É lógico que decepções haveriam de vir. E vieram, como naquela triste noite de 31 de Agosto de 1994, quando decidimos a Libertadores pela terceira vez seguida. O adversário era o Vélez Sarsfield, da Argentina, que venceu o primeiro jogo por 1 a 0. A decisão seria no Morumbi. Precisávamos ganhar de pelo menos um gol de diferença para levarmos o jogo para os pênaltis. Logo no primeiro tempo, Müller, de pênalti, fez 1 a 0. Depois, só pressão. Faltava mais um gol para o Tri. Mas Chilavert não deixaria. Fechou o gol no segundo tempo e, nos pênaltis, pegou a cobrança de Palinha. Zetti não conseguiu pegar nenhuma. O Vélez venceu por 5 a 3 em um Morumbi lotado. E na Tijuca, eu chorava copiosamente. Fui dormir chorando. Quase chorei dentro de sala de aula no dia seguinte. Teria que esperar 11 anos para a redenção....

De 1994 a 1998, nenhum título importante. Mas em 10 de Maio de 1998, Raí voltaria e marcaria um dos gols na final contra o Corinthians. França faria os outros dois. Ganhamos de 3 a1 e faturamos o Campeonato Paulista. Que voltaríamos a faturar em 2000, contra o Santos, com um golaço de Rogério Ceni em Carlos Germano. Ainda em 2000, outra grande decepção. Final da Copa do Brasil : São Paulo x Cruzeiro. Primeiro jogo, Morumbi, 0 a 0. Decisão no Mineirão. Marcelinho Paraíba, de falta, fez o gol que parecia ser do inédito título, já que o empate com gols era nosso. Estava no interior paulista e vibrava muito. Mas Fábio Júnior empataria o jogo. E aos 44 minutos do segundo tempo, Geovanni bateu falta, a bola desviou na barreira e enganou Rogério. Gol e título do Cruzeiro. Perdemos no último minuto. Não chorei, já era grandinho, 17 anos, mas foi uma dor muito grande. No ano seguinte, a conquista inédita do Rio-São Paulo com direito a surra no Botafogo. No Maracanã, 4 a 1. Show do fabuloso Luís Fabiano. No Morumbi, 2 a1 , dois gols de um jovem desconhecido até então : Kaká. De 2001 a 2005, novo jejum. Perdemos a Copa dos Campeões ainda em 2001 para o Flamengo, o Rio-São Paulo de 2002 para o Corinthians, assim como o Paulista de 2003. Em 2004, na volta à Libertadores, eliminação no último minuto diante do colombiano Once Caldas na semi-final. No mesmo ano ficaríamos em terceiro lugar no Brasileiro. Um terceiro lugar que valeu muito, visto que foi por ele que voltaríamos ao topo....

Chegamos a 2005. Eram quatro anos sem títulos. O time tinha Rogério, Cicinho, Fabão, Lugano, Júnior, Danilo, Mineiro, Josué, Amoroso, Luizão, entre outros... . Primeira batalha : o Campeonato Paulista, que seria de pontos corridos. O inesquecível 5 a 1 no Corinthians de Tevez e cia em pleno Pacaembu. Disparamos na liderança. Com duas rodadas de antecedência, empatamos com o Santos e fomos campeões. Era o prenúncio de uma grande temporada. Na Libertadores, passamos pelo Palmeiras nas oitavas-de-final com duas vitórias. Depois, o Tigres-MEX, 4 a 0 e 1 a 2 . Na semi-final, veio o maior time da história do futebol argentino, o River Plate. Jogo duro no Morumbi, mas Danilo e Rogério garantiram o importante 2 a 0. No Monumental de Nuñes, Danilo, Amoroso e Fabão garantiram a vitória por 3 a 2 e a vaga para final. Estávamos novamente na decisão da Libertadores, 11 anos depois. O adversário era brasileiro. O Atlético-PR, que disputaria uma final de Libertadores pela 1ª vez. Como eles não tinham estádio com capacidade para 40 mil pessoas, não puderam mandar o primeiro jogo na Arena da Baixada, em Curitiba. Azar o deles. O jogo foi marcado para o Beira-Rio, em Porto Alegre. Infeliz e infantil, o técnico atleticano Antônio Lopes fazia o seu chororô chamando o São Paulo de arrogante. Coitadinho. Ninguém mandou não ter estádio. No primeiro jogo, 1 a 1. A decisão seria, como em 94, no Morumbi. Mais chororô de Lopes, dizendo que o São Paulo já se achava campeão. Em 14 de Julho de 2005, Amoroso, Fabão, Luizão e, pasmem, Diego Tardelli marcaram os quatro gols em cima dos atleticanos. Quatro a zero. E, mais uma vez, coitadinho do Lopes. A América era nossa de novo, 11 anos depois. Era a redenção. Era o Tri. Mas 2005 não havia acabado....

Com a conquista da Libertadores, veio a vaga para o Mundial. Jogando mal, vencemos o Al-Ittihad, da Arábia Saudita, por 3 a 2, na semi-final. Na final, em Yokohama, o adversário seria o poderoso Liverpool, campeão europeu, sem levar gols há 11 jogos e com jogadores como Gerrard, Luís García, Riise, Peter Crouch, Reina, Cissé, entre outros. Não havia dúvidas de quem era o favorito. Mas chegou o dia 18 de Dezembro. Começo de jogo e Liverpool veio pra cima. O São Paulo tentava responder nos contra-ataques. Foram dois sem sucesso. Mas, no terceiro, Aloísio deu um passe genial para o incansável Mineiro, que tocou na saída de Reina. Eram onze jogos sem tomar gols. Mas Mineiro acabou com a muralha vermelha. Depois disso, só deu Liverpool. Com Gerrard, Luís García e cia. Mas Rogério Ceni mostrou naquele dia porque é o maior jogador da história do São Paulo. Pegava tudo. Falta, chute de dentro da área, cabeçada. O alívio só veio quando o jogo acabou e mundo era são-paulino pela terceira vez. Não deu pra segurar o choro de emoção. Naquela manhã quente na Lagoa, eu vibrava como nunca( ou como sempre) . Um ano inesquecível para o São Paulo. Mas não parou por aí....

No ano seguinte, chegamos a final da Libertadores novamente, mas perdemos para o maior time da história do Rio Grande do Sul, o Internacional, que em Dezembro conquistaria o mundo. Mas depois de 15 anos, voltaríamos a vencer o Campeonato Brasileiro. No jogo do título, contra o Atlético-PR, empatamos e fomos campeões com duas rodadas de antecedência. Tetra-campeão brasileiro. Em 2007, após novo tropeço na Libertadores, quando perdemos nas oitavas-de-final para o time que se diz rival do Inter, voltamos a atenção para o Brasileirão, onde sobramos e ganhamos o Penta, com "apenas" 15 pontos de vantagem sobre o vice-campeão Santos. Eram três anos seguidos de conquistas importantes. Mas ainda teria mais....

É impossível esquecer aquela cabeçada do Washington aos 47 do segundo tempo, nas quartas-de-final da Libertadores 2008, no Maracanã. Para quem estava lá então, pior ainda. Depois de uma derrota daquela e de muitos tropeços no Brasileiro parecia que passaríamos o ano sem títulos. Terminamos o primeiro turno em 4º, o que garantia apenas uma vaga na pré-Libertadores. Perdemos para o rival do Inter, no Olímpico, no primeiro jogo do segundo turno. O Grêmio Pocotó abriu então 11 pontos de vantagem sobre nós. Porém, não perderíamos mais. Em uma arrancada sensacional alcançamos a liderança na 33ª rodada. Na reta final, vencemos Botafogo, Inter, Portuguesa, Figueirense e Vasco. Precisávamos de uma vitória para sermos Hexa, contra o Fluminense, no Morumbi. Mas tropeçamos ao empatarmos. Teríamos, então, de pelo menos empatar com o Goiás em Brasília, na última rodada. O Brasil se vestiu de azul, branco e preto, na torcida pelo Grêmio. Era o São Paulo contra o Goiás e o Brasil inteiro. Menos o grande Internacional, que foi o ÚNICO clube em que a sua torcida nos apoiou. Mas Borges fez o gol da partida e do título. Um a zero, São Paulo Hexacamapeão. Chora Goiás, Grêmio e Brasil. Pela primeira vez na história do Campeonato Brasileiro, um time era tri-campeão em três anos seguidos. Méritos para Muricy, o pupilo do maior técnico da história do futebol brasileiro, Telê Santana. Méritos para o craque Hernanes. Para Hugo, o Riquelme negro. Para Borges, o artilheiro. Para André Dias, Miranda e Rodrigo, os xerifes da zaga. Para Rogério Ceni, o maior são-paulino da História. Para a torcida, que nunca deixou de acreditar. Sem esquecer também do nosso querido Grêmio Pocotó, que conseguiu perder um campeonato após 17 rodadas na liderança, conquistando assim o título de Cavalo Paraguaio de 2008, sendo vice o Flamengo, que liderou por dez.

Aos 73 anos, o São Paulo Futebol Clube se sagra como o maior vencedor da história do futebol brasileiro. E aos 26, eu agradeço e me orgulho sempre daquele amor que me arrebatou em 1993.
Como eu te amo, Tricolor!