sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Como Eu Te Amo, Tricolor !



O ano era 1993. Estava com 10 anos. Até hoje é difícil de explicar como foi. Não foi uma decisão racional, e sim, espontânea, como uma paixão arrebatadora, como um amor que te invade e não te deixa. Eu mudei naquele ano. De time, e consequentemente, de vida. A influência flamenguista, de família, durou pouco. Por uns dois anos, senão menos, torcia para o Rubro-Negro. De relevante, vi o título brasileiro de 1992, em cima do Botafogo. Era o penta(?). Lembro que um dia vi de perto uma camisa branca, com listras vermelhas e pretas horizontais. Achei linda. Queria porque queria uma daquela. Consegui através da minha querida e saudosa avó, que comprou uma para mim. Adorava aquela camisa, e o time que a usava era o melhor do mundo naquela época. É o que eu me lembro. Depois, minha única lembrança é de, já vestido com aquela camisa, professar que torcia para aquele time e não mais para o então campeão brasileiro. O São Paulo Futebol Clube ganhava mais um torcedor. Torcedor que ainda viu a final da Libertadores de 1993, entre seu novo time e a Universidad de Chile. No primeiro jogo, no Morumbi, show de Raí e 5 a 1 para o Tricolor. No segundo jogo, em Santiago, acabei dormindo e não vi o jogo. No dia seguinte, aflito, perguntava a todos na escola quanto tinha sido o jogo. Até ficar sabendo: perdemos, mas de 2 a 0 só, e a Libertadores era nossa de novo. Nem bem havia mudado de time e já comemorava o maior título do continente. Era o início de um novo amor. Verdadeiro. Eterno. E vencedor.

Ainda em 93 viriam mais dois títulos importantes. O primeiro, a Supercopa da Libertadores, em cima do Flamengo, meu ex-time ( foi uma delícia) , com 5 a 3 nos pênaltis, após dois empates em 2 a 2. O segundo, o maior de todos, o Mundial. Era Dezembro e o jogo era de madrugada. Naquela noite de calor na Tijuca, perdi a hora. Acordei no segundo tempo. O jogo, contra o Milan, estava 1 a 1. Dois minutos após eu ligar a TV, Toninho Cerezo fez 2 a 1. Alegria que eu tive que conter devido ao horário. Em um descuido da zaga, o francês Papin empatou para o Milan. Prorrogação à vista. Mas, inacreditavelmente, ela não veio. Porque Müller, o eterno camisa 7, não deixou. Aos 43 do segundo tempo, em um lance inacreditável, Müller dividiu com o goleiro Rossi e, sem querer, fez o terceiro. Era o bi. O mundo era Tricolor de novo. Comemoração tímida na Tijuca, mas forte no meu coração.

É lógico que decepções haveriam de vir. E vieram, como naquela triste noite de 31 de Agosto de 1994, quando decidimos a Libertadores pela terceira vez seguida. O adversário era o Vélez Sarsfield, da Argentina, que venceu o primeiro jogo por 1 a 0. A decisão seria no Morumbi. Precisávamos ganhar de pelo menos um gol de diferença para levarmos o jogo para os pênaltis. Logo no primeiro tempo, Müller, de pênalti, fez 1 a 0. Depois, só pressão. Faltava mais um gol para o Tri. Mas Chilavert não deixaria. Fechou o gol no segundo tempo e, nos pênaltis, pegou a cobrança de Palinha. Zetti não conseguiu pegar nenhuma. O Vélez venceu por 5 a 3 em um Morumbi lotado. E na Tijuca, eu chorava copiosamente. Fui dormir chorando. Quase chorei dentro de sala de aula no dia seguinte. Teria que esperar 11 anos para a redenção....

De 1994 a 1998, nenhum título importante. Mas em 10 de Maio de 1998, Raí voltaria e marcaria um dos gols na final contra o Corinthians. França faria os outros dois. Ganhamos de 3 a1 e faturamos o Campeonato Paulista. Que voltaríamos a faturar em 2000, contra o Santos, com um golaço de Rogério Ceni em Carlos Germano. Ainda em 2000, outra grande decepção. Final da Copa do Brasil : São Paulo x Cruzeiro. Primeiro jogo, Morumbi, 0 a 0. Decisão no Mineirão. Marcelinho Paraíba, de falta, fez o gol que parecia ser do inédito título, já que o empate com gols era nosso. Estava no interior paulista e vibrava muito. Mas Fábio Júnior empataria o jogo. E aos 44 minutos do segundo tempo, Geovanni bateu falta, a bola desviou na barreira e enganou Rogério. Gol e título do Cruzeiro. Perdemos no último minuto. Não chorei, já era grandinho, 17 anos, mas foi uma dor muito grande. No ano seguinte, a conquista inédita do Rio-São Paulo com direito a surra no Botafogo. No Maracanã, 4 a 1. Show do fabuloso Luís Fabiano. No Morumbi, 2 a1 , dois gols de um jovem desconhecido até então : Kaká. De 2001 a 2005, novo jejum. Perdemos a Copa dos Campeões ainda em 2001 para o Flamengo, o Rio-São Paulo de 2002 para o Corinthians, assim como o Paulista de 2003. Em 2004, na volta à Libertadores, eliminação no último minuto diante do colombiano Once Caldas na semi-final. No mesmo ano ficaríamos em terceiro lugar no Brasileiro. Um terceiro lugar que valeu muito, visto que foi por ele que voltaríamos ao topo....

Chegamos a 2005. Eram quatro anos sem títulos. O time tinha Rogério, Cicinho, Fabão, Lugano, Júnior, Danilo, Mineiro, Josué, Amoroso, Luizão, entre outros... . Primeira batalha : o Campeonato Paulista, que seria de pontos corridos. O inesquecível 5 a 1 no Corinthians de Tevez e cia em pleno Pacaembu. Disparamos na liderança. Com duas rodadas de antecedência, empatamos com o Santos e fomos campeões. Era o prenúncio de uma grande temporada. Na Libertadores, passamos pelo Palmeiras nas oitavas-de-final com duas vitórias. Depois, o Tigres-MEX, 4 a 0 e 1 a 2 . Na semi-final, veio o maior time da história do futebol argentino, o River Plate. Jogo duro no Morumbi, mas Danilo e Rogério garantiram o importante 2 a 0. No Monumental de Nuñes, Danilo, Amoroso e Fabão garantiram a vitória por 3 a 2 e a vaga para final. Estávamos novamente na decisão da Libertadores, 11 anos depois. O adversário era brasileiro. O Atlético-PR, que disputaria uma final de Libertadores pela 1ª vez. Como eles não tinham estádio com capacidade para 40 mil pessoas, não puderam mandar o primeiro jogo na Arena da Baixada, em Curitiba. Azar o deles. O jogo foi marcado para o Beira-Rio, em Porto Alegre. Infeliz e infantil, o técnico atleticano Antônio Lopes fazia o seu chororô chamando o São Paulo de arrogante. Coitadinho. Ninguém mandou não ter estádio. No primeiro jogo, 1 a 1. A decisão seria, como em 94, no Morumbi. Mais chororô de Lopes, dizendo que o São Paulo já se achava campeão. Em 14 de Julho de 2005, Amoroso, Fabão, Luizão e, pasmem, Diego Tardelli marcaram os quatro gols em cima dos atleticanos. Quatro a zero. E, mais uma vez, coitadinho do Lopes. A América era nossa de novo, 11 anos depois. Era a redenção. Era o Tri. Mas 2005 não havia acabado....

Com a conquista da Libertadores, veio a vaga para o Mundial. Jogando mal, vencemos o Al-Ittihad, da Arábia Saudita, por 3 a 2, na semi-final. Na final, em Yokohama, o adversário seria o poderoso Liverpool, campeão europeu, sem levar gols há 11 jogos e com jogadores como Gerrard, Luís García, Riise, Peter Crouch, Reina, Cissé, entre outros. Não havia dúvidas de quem era o favorito. Mas chegou o dia 18 de Dezembro. Começo de jogo e Liverpool veio pra cima. O São Paulo tentava responder nos contra-ataques. Foram dois sem sucesso. Mas, no terceiro, Aloísio deu um passe genial para o incansável Mineiro, que tocou na saída de Reina. Eram onze jogos sem tomar gols. Mas Mineiro acabou com a muralha vermelha. Depois disso, só deu Liverpool. Com Gerrard, Luís García e cia. Mas Rogério Ceni mostrou naquele dia porque é o maior jogador da história do São Paulo. Pegava tudo. Falta, chute de dentro da área, cabeçada. O alívio só veio quando o jogo acabou e mundo era são-paulino pela terceira vez. Não deu pra segurar o choro de emoção. Naquela manhã quente na Lagoa, eu vibrava como nunca( ou como sempre) . Um ano inesquecível para o São Paulo. Mas não parou por aí....

No ano seguinte, chegamos a final da Libertadores novamente, mas perdemos para o maior time da história do Rio Grande do Sul, o Internacional, que em Dezembro conquistaria o mundo. Mas depois de 15 anos, voltaríamos a vencer o Campeonato Brasileiro. No jogo do título, contra o Atlético-PR, empatamos e fomos campeões com duas rodadas de antecedência. Tetra-campeão brasileiro. Em 2007, após novo tropeço na Libertadores, quando perdemos nas oitavas-de-final para o time que se diz rival do Inter, voltamos a atenção para o Brasileirão, onde sobramos e ganhamos o Penta, com "apenas" 15 pontos de vantagem sobre o vice-campeão Santos. Eram três anos seguidos de conquistas importantes. Mas ainda teria mais....

É impossível esquecer aquela cabeçada do Washington aos 47 do segundo tempo, nas quartas-de-final da Libertadores 2008, no Maracanã. Para quem estava lá então, pior ainda. Depois de uma derrota daquela e de muitos tropeços no Brasileiro parecia que passaríamos o ano sem títulos. Terminamos o primeiro turno em 4º, o que garantia apenas uma vaga na pré-Libertadores. Perdemos para o rival do Inter, no Olímpico, no primeiro jogo do segundo turno. O Grêmio Pocotó abriu então 11 pontos de vantagem sobre nós. Porém, não perderíamos mais. Em uma arrancada sensacional alcançamos a liderança na 33ª rodada. Na reta final, vencemos Botafogo, Inter, Portuguesa, Figueirense e Vasco. Precisávamos de uma vitória para sermos Hexa, contra o Fluminense, no Morumbi. Mas tropeçamos ao empatarmos. Teríamos, então, de pelo menos empatar com o Goiás em Brasília, na última rodada. O Brasil se vestiu de azul, branco e preto, na torcida pelo Grêmio. Era o São Paulo contra o Goiás e o Brasil inteiro. Menos o grande Internacional, que foi o ÚNICO clube em que a sua torcida nos apoiou. Mas Borges fez o gol da partida e do título. Um a zero, São Paulo Hexacamapeão. Chora Goiás, Grêmio e Brasil. Pela primeira vez na história do Campeonato Brasileiro, um time era tri-campeão em três anos seguidos. Méritos para Muricy, o pupilo do maior técnico da história do futebol brasileiro, Telê Santana. Méritos para o craque Hernanes. Para Hugo, o Riquelme negro. Para Borges, o artilheiro. Para André Dias, Miranda e Rodrigo, os xerifes da zaga. Para Rogério Ceni, o maior são-paulino da História. Para a torcida, que nunca deixou de acreditar. Sem esquecer também do nosso querido Grêmio Pocotó, que conseguiu perder um campeonato após 17 rodadas na liderança, conquistando assim o título de Cavalo Paraguaio de 2008, sendo vice o Flamengo, que liderou por dez.

Aos 73 anos, o São Paulo Futebol Clube se sagra como o maior vencedor da história do futebol brasileiro. E aos 26, eu agradeço e me orgulho sempre daquele amor que me arrebatou em 1993.
Como eu te amo, Tricolor!

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